Taiasmin
Ohnmacht
Conto escrito em 2012, em homenagem ao
centenário da publicação do livro
Contos Gauchescos de Simões Lopes Neto.
Muitos livros sobre a cama. Época de
provas. Na escrivaninha, Cassandra se debruçava sobre um deles, em suas páginas
figuras de estruturas cerebrais expostas. Quantas palavras a decorar! Córtex,
lobo parietal, astrócitos.
Desanimada e pouco concentrada,
Cassandra começou a divagar. Pensou no convite que recebeu de Mônica, colega de
trabalho, para ir a um CTG. Não sabia dançar vanerão, xote ou qualquer dança
típica, mas não era a primeira vez que ia a um baile gauchesco, sempre
divertidos.
Lembrou-se de palavras como cusco,
zaino, guaiaca e da professora Alice, exigindo a leitura de Simões Lopes Neto,
ainda na época do colégio. Cassandra a odiou a cada palavra que não entendeu do
texto. Chegou a pensar na possibilidade de não ler o conto. No entanto, foi
insistindo, atropelando as palavras desconhecidas e buscando o contexto. De
repente:
“(...) não senti na cintura o peso da
guaiaca!”
Algo fisgou Cassandra.
“Tinha perdido trezentas onças de ouro
que levava (...)”
A leitura se tornou ávida e, paralela à
desventura do personagem, ela foi lembrando-se de um momento da sua própria
vida, quando reuniu o dinheiro de vários colegas e comprou comes e bebes para a
comemoração de fim de ano. A sensação horrível e jamais esquecida de olhar para
a carteira vazia no momento de pagar a conta. Confusão, pânico e vergonha.
Cassandra foi roubada, sempre suspeitou
de algum colega do colégio mesmo. Em nenhum momento passou a ideia dramática do
suicídio por sua cabeça, mas foi Pedro, seu pai, quem garantiu um final honroso
ao caso, repondo o dinheiro roubado.
- Suicídio, cabeça, tiro...Ah, estruturas
cerebrais! Onde eu estava com a cabeça? Preciso estudar. – pensou Cassandra.
A sua frente, focou novamente a anatomia
que se apresentava em formas e termos estranhos.
Bom, na época, ela conseguiu terminar de
ler o conto, e com prazer, o que era melhor. Pensou em quanto tempo não fazia
uma boa leitura. Levantou, foi até a estante e encontrou o livro. Que boa
sensação tê-lo nas mãos! Sabia que tinha de estudar, mas seria bem rapidinho.
Afastou os livros técnicos, deitou na cama, ligou a luz de cabeceira e
“Eu tropeava, nesse tempo.”
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