Taiasmin Ohnmacht
Cristiano andava
apreensivo. Não queria ir aquele jantar. Sentia-se caminhando para um fim não
desejado. Deveria haver algum modo de ficar surdo de uma hora para outra, então
não precisaria escutar a dureza das palavras.
Enquanto
caminhava para pegar o carro, repetia para si mesmo, como se fosse um mantra,
que nada mudaria o fato dela ser sua mulher. Não sabia como encará-la. Pela
manhã, vira apenas morte em seus olhos, nenhuma lágrima, nenhum abatimento,
tampouco existia a versão em que ela lhe implorava para que ele não a deixasse.
No fundo, sempre soube estar mais próximo das súplicas do que ela.
Conduzia
seu carro em curvas alternadas de vítima e algoz. Aclives de justificativas,
declives de arrependimentos. Não, ele não conduzia nada, era ela quem dirigia,
quem determinava todos os rumos. Com raiva, sentiu-se impotente; um menino sem
o direito de gozar sua travessura. Algo dentro de si rebelou-se, mas logo foi
abafado por saber-se incapaz de ficar sozinho. Podia desejar outras, não podia
viver sem ela. Era um viciado na iminência brutal de não poder mais se dar ao
consumo. Se isso acontecesse, não sabia o que sobraria de si.
Cristiano
começou a planejar um novo caminho, concordaria com tudo o que ela dissesse.
Seria humilde, assumiria ter errado, daria a ela todo o direito à raiva, à
vingança, até ao silêncio e, se fosse preciso pediria, suplicaria, choraria seu
perdão. Contudo, não se tratava de uma estratégia, mas de uma necessidade.
Tenso,
entrou no restaurante. Ela já estava lá e, para seu espanto, parecia nervosa.
Não havia sinal da deusa fria e distante que ele imaginara encontrar. Enfim,
Cristiano começou a sentir-se um pouco mais confiante. Pediu ao garçom o vinho
preferido deles e ao sabor do qual tantas noites haviam se amado. Ela evitava
olhá-lo nos olhos e isso também lhe pareceu bom sinal. Ela não estava no
controle. Mesmo assim, o discurso ainda era dela. Tudo bem, ele pensou, tinha
até curiosidade.
- Cris, a gente está casado há muito
tempo. Não é fácil pra mim também. Quando tu fala que o que aconteceu nada teve
a ver com amor, eu acredito. Também tenho meus desejos e mesmo assim te amo. -
comovido, Cristiano segurou as mãos dela, com carinho – Não sei como te dizer
isso, espero que compreendas, mas...essa moça, será que ela aceitaria um ménage a trois?
Cristiano
ficou surdo.
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