sábado, 12 de dezembro de 2020

VOZES

 



Taiasmin Ohnmacht


Qual é a voz pública da poesia?
É a que passa e fala:
- Vai se fudê!
Pontuada por risadas de
Vírgulas, interrogações, exclamações
É a batida de percussão
No fim de tarde redentor
É o ritmo das vassouras nas calçadas públicas
E um transeunte que quebra o varrer
Pulando pianinho
É o feirante gritando as belezas do melão
Do morango
Do abacaxi
Que é da terra
Dessa terra
Na qual a voz pública
E o homem público
Não se encontram
Nos mesmos lugares

*Publicado originalmente no site A voz públlica da poesia (http://avozpublicadapoesia.blogspot.com/2018/03/vozes.html)

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

E OS OLHOS JÁ ESTAVAM PERDIDOS


 
Taiasmin Ohnmacht

 

Sentado em uma cadeira incômoda, Daniel pensa que nem para morrer tem sorte. Espera pela partida de sua tia, que pode dar-se a qualquer momento. Ela está na UTI e ele em uma visita só-para-constar. Enfisema pulmonar. Não é uma doença genética. Até nisso a família lhe foi falha. Mesmo assim, foi visitar a insignificante tia, anda tão pesado que não precisa carregar mais as acusações maternas de negligência com os parentes.

            Sente uma indiferença libertadora frente à morte. Sobretudo à sua. Não há coisa alguma que ela possa tirar-lhe, na verdade o libertaria de uma série de fracassos e frustrações. Daniel pensa no Dilúvio, se fosse mais do que um arroio, poderia resolver seus problemas ali mesmo, afinal passa bem em frente ao hospital. O Guaíba seria uma boa solução, sendo rio ou não, mas falta-lhe energia para andar até lá.

            Desanimado, pensa na rotina de trabalho humilhante que tem pela frente, escrever textos inúteis sobre esportes pouco importantes e que certamente serão severamente criticados pelo chefe de redação. Ir para casa não é melhor; enfrentar a ausência afetiva da mulher, que tem um amante ou procura por um. O filho, único motivo de alegria que sobrara, em intercâmbio na Europa, já dera sinais que não voltaria tão cedo.

            Daniel levanta-se do banco, fim de visita e a tia continua com um fio de vida. Ele deseja que não dure mais uma semana, senão será forçado a uma nova encenação de apreço familiar. Olha para a porta de saída do hospital e vê o dia ensolarado zombar de sua insignificância. Sente-se um afogado debatendo-se por um sopro de vida.

            Tudo ainda muito branco. Abre os olhos, não é o único que olha. Uma enfermeira o olha com preocupação, mas tem certeza de que há um par de olhos a mais na sala onde estão só os dois. Esforça-se para sentar e tem a leve impressão de fazer isso com mais facilidade do que poderia supor.

─ Calma, levanta devagar senão o senhor pode ter uma nova vertigem.

─ Eu não sei o que houve. Estava saindo do hospital.

─ O senhor desmaiou próximo à recepção. Mas sua pressão está bem e a glicose também. Sem qualquer alteração.

            Daniel quer sair dali, mas também tem a esperança de estar com algum grave mal. Surpreende-se olhando para os seios da enfermeira que o ajuda a se levantar. Ela percebe seu olhar.

─ Bom, já estás bem melhor. Tem uma lancheria no segundo andar, passa lá e come alguma coisa. Se tiveres um novo desmaio é melhor consultar um médico.

            O que mais perturba Daniel é perceber que não olhou para os seios dela, o que de fato ocorrera é uma nova percepção, algo que ele não consegue definir bem, ele viu a si mesmo olhar para os seios dela como se fosse apenas um observador da cena.

            Anda até o carro sentindo-se fora de esquadro. É como se não fizesse parte do mundo, mas ao mesmo tempo transita pela vida com a mesma desenvoltura de sempre. A mão de sempre coloca a chave na ignição, o pé esquerdo na embreagem. Ambos estranhos. Antes de partir, olha-se no espelho retrovisor e se assusta. É como entrar em uma daquelas cabines para provar roupas nas lojas. Lembra-se de algumas que tinham espelhos em duas paredes paralelas que multiplicavam a imagem ao infinito. Ele se olha e vê a si e a alguém que o olha e ele se vê nesse outro olhar. Aterrorizado, Daniel fecha os olhos e encosta-se no banco com força. Bateu a cabeça quando desmaiou no hospital, ele pensa procurando encontrar uma explicação. Algo em seu cérebro se soltou e apagou. Ou se acendeu. É surpreendido pelo toque do próprio celular.

─ Daniel, por onde anda? A gente tem que fechar as pautas da próxima edição.

            Silêncio, não sabe o que responder ao chefe. Uma mão que já não reconhece, engata a marcha e, com a ajuda de um corpo que fica cada vez mais estranho, dá partida ao carro em direção à redação do jornal.

            Olha a tudo e todos com um espanto que não é seu, ele mesmo só se espanta com a estranheza do corpo e com voracidade do outro olhar. Meia hora passada na frente do computador, sem uma palavra escrita. Daniel precisa produzir um texto sobre uma partida de futebol entre dois times do interior. Nunca apreciou futebol ou qualquer outro esporte, durante longo tempo sonhou em ser repórter investigativo, agora, com dez anos de trabalho pela frente ainda, sonha apenas com a aposentadoria.

            Decide escrever sobre o inusitado de suas sensações, o editor chefe que espere. Qualquer coisa, alegaria um mal-estar e iria embora mais cedo, mas quando se posiciona para digitar, vê os olhos lerem com avidez o material de suporte que recebeu para escrever o pequeno texto. Trata-se de uma lista de acontecimentos comuns em qualquer jogo, marcados pela contagem de tempo. Aos 12 minutos, escanteio; aos 23 minutos, reposição da bola; aos 30 minutos falta. Daniel percebe uma animação que o transcende e os dedos, que não lhe pertencem mais, digitam um texto de mais de 400 caracteres e o enviam ao chefe de redação.

─ Que piada é essa Daniel? Está tentando derrubar nosso cronista? Eu te peço um texto de 50 a 70 caracteres, apenas uma nota! E tu me vem com uma crônica! Volta lá e pratica a salutar arte do corte.

            Antes de voltar para a sua mesa, o seu chefe volta a chama-lo:

─ Mas tenho que admitir, é o melhor texto que já escreveste. Parabéns! Usa esse teu talento no próximo grenal, aí sim te consigo espaço.

            Grenal? A vontade de morrer de Daniel é substituída por raiva, uma raiva de algo dentro de si que não reconhece e que usurpa seu lugar perante os outros. Vai para casa dirigindo o carro. Sim, ele. Não a coisa que o habita. Pela primeira vez em muito tempo, dirige com energia e determinação.

            O que pode fazer? Procurar um analista? Um terreiro de umbanda? Pesquisar no google? Chega em casa e encontra sua mulher na cozinha preparando a janta. Desleixada, como de costume, o olha com uma expressão de tédio. Logo observa seu olhar de gula percorrer o corpo dela. Ela tagarela sobre sua rotina de advogada, os processos em que trabalha e os clientes que tem. Daniel permanece calado porque a boca ainda lhe pertence, mas percebe um interesse inédito pelos assuntos da mulher. Perdera os ouvidos.

            À noite, na cama, começa a refletir na guerra que vive. O inimigo o pegou de surpresa e conquistou vários territórios de assalto, agora ele tem que pensar em como retomar seus domínios. Não gosta daquela presença, precisa lutar por si e por seu corpo. Pela manhã, Daniel fica observando a esposa se arrumar para o trabalho, sente atração pelo corpo de mulher de meia-idade.

            Na semana seguinte, Daniel é expectador de sua rotina de trabalho, toma cafezinho com os colegas, discute ativamente as pautas da seção de esportes e escreve com prazer os textos que lhe são exigidos. Luta para retomar o controle, tenta cruzar os braços, imobilizar os dedos no teclado, mas tudo o que consegue é um ou outro erro ortográfico, nada mais. Decide retornar ao hospital, não sabe o que está acontecendo, mas sabe que começou lá. Talvez um espírito, talvez um demônio tenha se apossado de seu corpo e mudado sua trajetória de vida. Talvez uma máquina de radiografia defeituosa tenha vazado radiação, alterando seu DNA.

            Daniel entra no carro, não sabe o que fará quando chegar ao hospital, mas sabe que deve ir para lá. Estaciona na garagem de seu prédio, sobe os seis andares de elevador. Abre a porta, a mulher novamente está na cozinha, vai até ela e dá um apaixonado beijo. Fazem sexo ali mesmo, como não acontecia há vinte anos. No início ela resiste um pouco, mas depois corresponde com igual desejo.

            Na manhã seguinte, a esposa abre os olhos e vê o marido já acordado. Aninha-se ao corpo dele e fala:

─ Daniel, eu ainda te amo. E me surpreendo com isso.

Ele beija os cabelos dela e sorri, já está começando a se acostumar com esse nome.

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Pequenos II

 Prefeitura distribui larvas de joaninha para combater pragas em jardins  particulares de Paris - Meio Ambiente


Taiasmin Ohnmacht


I


a força encobre a fraqueza

a impotência como única certeza

todos comandados em dança

                                        de marionetes

o poder resolve quem será descarte

da crueza e da barbaridade


II


na dor a certeza de meu corpo

nunca estive tão perto da natureza

ínfima diferença entre mim e as formigas


III


enquanto divago

caminho pelo mato

um jacaré afogado

faz sinais de fogo

com seu rabo



domingo, 26 de julho de 2020

DESDE BENGUELA

Editorial | Um Brasil de Terezas de Benguela | Opinião

Taiasmin Ohnmacht

Quis Teresa lutar
Qual a hora da morte?
A sorte se joga todos os dias
Liberdade é precioso bem
Metal que não se negocia

Quis Teresa resistir
No olhar um propósito
Pacto de um e de muitos

Em um encontro cósmico
Mãos, pés e corpos
Que se fazem raiz

Quis Teresa sonhar

domingo, 21 de junho de 2020

A VOZ AUSENTE


Letra de fôrma, letra cursiva e letra de imprensa. Você sabe a ...



Taiasmin Ohnmacht


“A escrita foi, em sua origem, a voz de uma pessoa ausente”. Quando Freud traz essa frase em seu texto O mal estar na cultura, em 1929, ele está elencando o desenvolvimento tecnológico e científico como criações que são extensão ou substitutos sensoriais, motores ou mnêmicos, como o telescópio, o microscópio, a fotografia. Mas esta frase, “A escrita foi, em sua origem, a voz de uma pessoa ausente” poética a meu ver, traz um significante que me inspira outras direções, e este significante é a palavra ausente.
A palavra ausente, a palavra que não está lá. Já não é mais uma pessoa, mas restos de um encontro que não tem mais nome. Uma lembrança que não tem mais rosto. Talvez essa seja a metonímia que anima o escritor, a busca de uma palavra. A palavra que precisa ser escrita por que não está, e que ao ser escrita, já não é mais a palavra buscada.
Mal estar, insatisfação, descontentamento. Em psicanálise esse mal estar diz respeito a um sujeito que não é mais regido pela natureza, para o qual não é mais possível um encontro mítico perfeito, passando assim, à organização da cultura, às regras da linguagem que regula relações e impõe restrições às formas de gozo, exigindo do sujeito renúncia à satisfação.
Dessa forma, encontramos um sujeito que é sujeito por ter sido marcado pela relação com uma alteridade, que toma um corpo e o marca com significantes. A esse sujeito é possível articular os signos linguísticos e tornar-se autor, produtor de linguagem, mas de uma linguagem em diálogo com a cultura. Um texto traz em si essas duas marcas: do sujeito e da cultura. Em uma relação que não é plena de equilíbrio, nem totalmente realizada. Ela é intermitente, padece de equívocos e de incompletude. Relação bem representada nos versos de Mário de Sá-Carneiro:

Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.

Esse outro que não encontro mais, e que nem sei se é alguém. Talvez seja uma palavra, sempre a próxima, alguma que vá dar forma ao sublime, ao inexprimível.
Aquele que cria através da literatura, cria presenças, e a primeira presença que cria é a do leitor. Figura anônima, sem rosto, intermitente, que repete presenças e ausências anteriores e a quem tudo se supõe. O desejo por um outro, de um mundo que reconheça o valor da moeda que o escritor oferece sem saber o quanto vale, parafraseando Clarice Lispector, em paixão segundo GH.
É também Lispector que nos diz, o nada é vivo e úmido, como a matéria branca da barata, e quem escreve sabe, porque algo se move, algo existe, ainda que sem forma conhecida, e escrever é a experiência de criar um lugar singular a este nada.
Para o filósofo Jacques Rancière Só um corpo vivo, um corpo que sofre, é capaz, em última instância, de garantir a escrita” Podemos pensar aqui em um corpo afetado pelo que foi um dia uma presença, pela presença que deixou de ser, ou melhor, pela presença de uma ausência.
Embora no próprio texto o mal estar na cultura, Freud vá falar da arte como sublimação, ou seja, como um modo de satisfação socialmente valorizado para formas de gozo não admissíveis pela cultura, escolho seguir por um texto mais antigo, de 1908, o poeta e o fantasiar em que o psicanalista vienense aproxima a produção do escritor criativo ao jogo, à brincadeira infantil. Atentemos que para Freud o brincar é coisa séria, uma atividade que tece a realidade e o mundo com o fio do desejo. Assim também o faz o escritor criativo, com os fios do próprio desejo a tecer suas fantasias ou entrelaçado aos mitos, sagas, histórias de um povo, em uma imbricação entre o singular e o compartilhável.
E é neste encontro entre o singular e o compartilhável que também se dá o encontro entre texto e leitor. O leitor que aceita o convite do escritor para adentrar em sua narrativa, aceita recriar a história em termos próprios, em emprestar as tintas de sua subjetividade ao texto que se desenrola aos seus olhos. O leitor restitui a vida ao texto a cada leitura. Um texto é uma narrativa que se faz a muitas vozes, internas ao texto e externas ao convocar à leitura.
A narrativa está ligada à temporalidade, não ao tempo objetivo e mensurável, mas ao tempo humano, subjetivo, relacionado à vivência, à experiência. Narrar é fazer escolhas, organizar, estabelecer relações, não em uma atitude mensurável, mas dar estatuto de realidade ao que é uma experiência subjetiva.
O tempo existe por nossa memória e nossas expectativas, individuais e compartilhadas, e tais expectativas existem como tal à medida que sejam passíveis de serem narradas.
Freud coloca a experiência do narrar em estreita relação com o tempo, não um tempo linear, mas um tempo que se articula com o desejo.
E não é assim que criamos a noção de tempo? Um presente resultado de uma história, acessada apenas através de escolhas narrativas, e expectativas marcadas por uma certa posição perante o desejo. Desde Freud sabemos que a arte diz antes e melhor do que a ciência, assim trago os versos da escritora Conceição Evaristo:

Antevejo.
Antecipo.
Antes-vivo
Antes – agora – o que há de vir (Eu-Mulher)

Segundo o psicanalista Edson Souza, é no mar da linguagem que nos afogamos ou nos salvamos. Por que a linguagem é aquilo que não sou, mas também é a única forma de me dizer. Ainda citando Edson: A literatura é uma espécie de formigueiro que areja a linguagem, permitindo que novos lugares de enunciação sejam criados.
Frantz Fanon, filósofo, psiquiatra e ensaísta martinicano, lembra que Falar é estar em condições de empregar um certa sintaxe, possuir a morfologia de tal ou qual língua, mas é sobretudo assumir uma cultura, suportar o peso de uma civilização.
Assim, chego a um outro mal estar, que não diz mais respeito à ausência inexprimível, mas ao risco de uma presença inquestionável. Diz de um certo encontro com a linguagem que suprime o espaço da indeterminação, fixa lugares, estabelece enunciados rígidos, fechados e hierarquicos sobre corpos e formas de vida. Aí reside a violência que desconsidera o sujeito, a diversidade passa a ser puro objeto, indesejável.
Daí a importância de que a literatura seja também uma perversão aos signos linguísticos carregados de estereótipos. O escritor Roland Barthes faz um apelo à atividade de trapacear a língua, ou seja, à literatura, entendendo-a não como os cânones, o sucesso do mercado editorial, mas como uma prática: a prática de escrever.
Escrever é também esvaziar as palavras de sentido, criar o sem sentido, em provocar equívocos, desconstruções, significações em aberto, inaugurar novos sentidos.
A literatura é um trabalho, para o autor e para o leitor. Um trabalho que é também um jogo, um jogo sério de peças que se movem em torno de uma ausência, que garante o espaço de criação, não é, nem se propõe a ser uma cura para o mal estar, é antes, uma experiência, que pode ser inclusive de mal estar.

Quando eu morder
A palavra,
Por favor,
Não me apressem,
Quero mascar,
Rasgar entre os dentes,
A pele, os ossos, o tutano
Do verbo
Para assim versejar
O âmago das coisas. (Da calma e Do silêncio, Conceição Evaristo)

quarta-feira, 10 de junho de 2020

QUE NÃO SEJA ALVO


AS PÁGINAS BRANCAS E O SILÊNCIO DE DEUS

Que Não Seja Alvo

Taiasmin Ohnmacht


Quem tem medo da folha branca?

Da face branca, dos olhos claros

Que procuram selar destinos?

Eu tenho medo da folha branca da História

Lavada em sangue de tantos povos


O alvejante é corrosivo e faz mal à pele

Foi inventado na Europa

POEMA PARA LILIAN ROCHA


Livro: Negra Soul - Lilian Rose Marques da Rocha

Poema feito em homenagem à escritora Lilian Rocha, por ocasião de seu aniversário.

Taiasmin Ohnmacht

A vida pulsa...pulsa...pulsa
Mas não é evidente
Nos olhos do crente da bandeira
Que grita lei e ordem para a vila inteira
E pisa no sangue, nos olhos
Corrompe histórias, nomes, futuros
Repertório obscuro
Do capitão, do general e do tenente
Da alvura sentada em sua patente
Que só entende a vida como imitação

Aonde lemas e patriotismos não fazem pontes
Nem estradas
A vida precisa ser criação ousada
Do ritmo, da voz e da palavra
Das mãos que circulam entre
Mãe e filha em tranças bem trançadas
Da alma negra livre
Ao som do Sopapo embalada
No requebro e na quebrada
No cruzamento e na calçada
É preciso criar a vida
Assim, meio que do nada
Do cimento, da poluição
Fazer-se presença, fazer-se barulho
Fazer-se fala
Tirar da pedra um futuro
Tirar Sonho de asfalto
Rima de Rocha
Mesmo que de Rocha
O pulsar da vida
Melhor ainda lendo Lilian Rocha.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

A POEIRA O SOL E O VENTO

Cama Poeira Sol - Foto gratuita no Pixabay


Taiasmin Ohnmacht


A poeira dança no raio de sol
Mamãe areja a casa
Desacomoda as cobertas
Desfaz restos noturnos
Estende lençol

Mamãe diz:
- Inventa um futuro feliz
Casamento não é o que se diz

Em seu rosto um traço de tormento
A poeira, o sol e o vento

Eu brinco de agitar o ar
Quero ver a poeira em espiral
Mamãe areja a casa
E eu tento pegar um raio de sol

terça-feira, 12 de maio de 2020

EXÉQUIAS (VÍDEO POEMA)

Um poema em vídeo é um trabalho coletivo.
Estiveram comigo na elaboração deste vídeo Tamires O. Stodulski (arte) e ALSK (voz masculina).


Convido todos a assistirem






terça-feira, 28 de abril de 2020

PROCESSO CRIATIVO






Em 2018, fui convidada para falar sobre meu processo criativo no evento Escrita e crítica literária no Brasil: limiares e perspectivas, organizado pelo Programa de Pós-graduação em Letras PUCRS. Confira no link abaixo um pouco de minha trajetória como leitora/escritora. Uma trajetória ainda em movimento.


https://editora.pucrs.br/acessolivre/anais/escrita-e-critica-literaria-no-brasil/assets/edicoes/2018/arquivos/2.pdf

domingo, 12 de abril de 2020

FÁBULA

Também podemos ter seis meses de céu escuro", diz Bolsonaro, em ...

Taiasmin Ohnmacht


Ratos não são crianças
Homens são
Homens não-sãos
Homens tóxicos
Homens bomba
Vociferam à beira da morte
Meio-fio
Ao longe um flautista
Sem flauta
Toca

segunda-feira, 30 de março de 2020

IMAGEM VAZIA

A oração e o silêncio de Deus | Pão Diário


Taiasmin Ohnmacht

eu quero apagar as linhas
desescrever letra por letra
restabelecer o branco da folha
quero desdizer o que disse
chegar ao silencioso ato
da mão que em seu último traço
apaga o primeiro
sem rastros
hoje quero o silêncio da morte
a boca muda
que você não venha
estou muito cansada
para suportar as palavras
elas me doem em suas exigências
eu só quero silêncio

NENHUMA HISTÓRIA PARA CONTAR

Brasil Fora de Estrada: Briga dos Pneus



Taiasmin Ohnmacht

Fui embora de Recife
Voltei ao Guarujá
Um amor meio trambique
Nenhuma história para contar

Enfadonha a mente
Do Espírito Santo
Papo vazio, deprimente
Se um dia eu for a Roraima
Compro champanhe e aguardente

Balão
Cai no chão frio
Dessa terra desbotada
Não cai não
Desse Sul
Não sai mais nada

sexta-feira, 27 de março de 2020

PORQUE O AMOR

ventos


Taiasmin Ohnmacht


porque o amor é ridículo

porque o amor é tua ausência

porque o amor é o que não sei

o que não tem

aquilo que teus olhos não dizem

porque o amor é qualquer coisa

desencontros e mal entendidos

porque o amor é te sentir

quando não estás

quando saíste

quando não vais voltar

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

JOGO




Taiasmin Ohnmacht 

Uma caixa desmontada
Algo como o esboço de um tabuleiro
A liberdade exige movimento das peças
E em cada quadrado cabe um corpo inteiro
Para ficar? Para partir?
De mim, só entendo o vento no rosto
E a estrada aberta
Que fale quem me viu passar
E fale o que entendeu
Amanhã terei outro nome
E serei caixa aberta 
para novo jogo

domingo, 12 de janeiro de 2020

NA FOLHA



Taiasmin Ohnmacht

na folha
um borrão de tinta
suspira ai-de-mim
o mestre lê
deixa-disso
o seu nariz torcido
me deixa aflito

na folha
lorotas
para fazer cócegas
na ponta da língua
quem sabe surge um sorriso
aonde preciso