Taiasmin Ohnmacht
Que gata? Ou foi um equívoco ou pura
sacanagem. Grande coisa! Nem toda ordem é para ser cumprida. E ele sentou entre
os carros e começou a fumar. De quanto tempo precisaria para fazer parecer que
procurou? Ainda disseram, não mata, nem
judia. Não é qualquer vira-lata. Incomoda, mas é a persa da moradora do 301.
É claro que ele não iria feri-la, sequer iria caçá-la!
Moradores começaram a encontrar restos
de comida junto ao carro e dentro do capô. A adolescente do 301 comunicou ao
condomínio que sua gata branca fugira do apartamento e pediu que ajudassem a
encontrá-la. Logo a gata passou a ser a primeira suspeita.
Pouco importa, quem está preocupado com
gatos e carros? Cada um que se vire com seus problemas. Ele fora contratado
apenas como porteiro da noite. Uma noite sim, uma não. Identificando pessoas e
veículos e esperando as horas passarem. Ninguém falou em gatos, tinha que se
preocupar apenas com gatunos, o que já era trabalho suficiente!
Pelo menos a tarefa permitiu a ele fumar
um bom cigarro e se desligar das noites de vigília. Nada para olhar e ninguém
para vê-lo. Por que a gata? Teriam encontrado um pelo branco para incriminá-la?
Poderia ser um rato. Se fosse no seu carro, estacionado na frente de sua casa,
pensaria primeiro em um rato. De qualquer modo, a verdade era que estava ali
tranquilo, em plena madrugada e fumando o seu cigarrinho.
Ele gostava de identificar os carros, as
marcas, apreciava as cores e os modelos. Na garagem, olhava-os pensando em
quanto dinheiro estaria ali guardado. Fosse gato ou não, tinha bom gosto.
Melhor estar no motor de uma daquelas máquinas do que na cama de uma
adolescente chata. Quer dizer, mais ou menos, na verdade com a vigilância de
sua esposa e a anêmica renda, não teria nem um daqueles carros, nem a cama de qualquer
outra mulher.
Olhou o relógio, melhor voltar.
Levantou-se e sentiu uma vontade irresistível de urinar. Mirou na roda do
Mercedes Benz, mais uma na conta da gata.
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