Taiasmin Ohnmacht
I
Em
silêncio trabalhava.
Despesas,
lucros, receitas líquidas e variáveis, ativo, passivo.
A
nova assistente entrou na sala e alcançou-lhe os balancetes. Com o olhar, acompanhou
sua saída. Depois, distraído, voltou aos cálculos:
1+1=2
II
Janeiro
Carmela
acordou e calçou o par de chinelos ao lado da cama. Com desânimo, levantou para
mais um dia de trabalho.
Abril
Ao
lado da cama, dois pares de chinelos misturados. Carmela espreguiçou-se feliz.
O relógio pedia pressa, mas ela resolveu ignorar.
Novembro
Carmela amanheceu de
uma noite mal dormida. A cama fria, grande e vazia. Sentou e calçou o chinelo.
III
Era preciso ser rápido e ter força. Trabalho
pesado, suor e às vezes dor. Ele se esforçava para fazer o melhor, mas o
reconhecimento do patrão era mirrado. Tudo por um prato de comida e um pedaço
de chão. De qualquer modo, não conhecera outra vida e até gostava de andar na
rua, é claro que não avaliou os riscos. As quatro patas fraturadas no meio do
asfalto davam a dimensão da tragédia.
IV
Olhou o casal. Na precipitação, um guarda-chuva
para dois. A ternura da cena evocou-lhe um vazio. Continuou seu caminho pisando
em poças d’água, tentativa de afogar a certeza de um rompimento.
V
Conduziu bem sua vida. Amou, juntou bens, e até
teve alguns desafetos. Quando chegou aos cinquenta anos, não mais violou,
roubou, matou. Desfrutou bem de seus anos de aposentadoria. Era um homem bem
sucedido.
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