O vento corre
e o tempo não para.
Vamos numa estrada acelerada
sem qualquer zona de conforto.
Se aproxima o confronto
entre judeus, americanos e árabes
e Deus não entende
como foi convocado para tal guerra.
O amor foge por entre os dedos,
se concentra no espelho.
Os teus olhos são cegos por reflexos
de um monitor de imagens velozes.
A inteligência é artificial,
enfim, um bom conceito para tal.
...por decisão dele, pedra ficou sendo pedra, raiva ficou sendo raiva, lua ficou sendo lua e assim por diante. (Gosto de África - Joel Rufino dos Santos).
quinta-feira, 27 de junho de 2013
quinta-feira, 13 de junho de 2013
ESCONDERIJOS
Taiasmin Ohnmacht
Que gata? Ou foi um equívoco ou pura
sacanagem. Grande coisa! Nem toda ordem é para ser cumprida. E ele sentou entre
os carros e começou a fumar. De quanto tempo precisaria para fazer parecer que
procurou? Ainda disseram, não mata, nem
judia. Não é qualquer vira-lata. Incomoda, mas é a persa da moradora do 301.
É claro que ele não iria feri-la, sequer iria caçá-la!
Moradores começaram a encontrar restos
de comida junto ao carro e dentro do capô. A adolescente do 301 comunicou ao
condomínio que sua gata branca fugira do apartamento e pediu que ajudassem a
encontrá-la. Logo a gata passou a ser a primeira suspeita.
Pouco importa, quem está preocupado com
gatos e carros? Cada um que se vire com seus problemas. Ele fora contratado
apenas como porteiro da noite. Uma noite sim, uma não. Identificando pessoas e
veículos e esperando as horas passarem. Ninguém falou em gatos, tinha que se
preocupar apenas com gatunos, o que já era trabalho suficiente!
Pelo menos a tarefa permitiu a ele fumar
um bom cigarro e se desligar das noites de vigília. Nada para olhar e ninguém
para vê-lo. Por que a gata? Teriam encontrado um pelo branco para incriminá-la?
Poderia ser um rato. Se fosse no seu carro, estacionado na frente de sua casa,
pensaria primeiro em um rato. De qualquer modo, a verdade era que estava ali
tranquilo, em plena madrugada e fumando o seu cigarrinho.
Ele gostava de identificar os carros, as
marcas, apreciava as cores e os modelos. Na garagem, olhava-os pensando em
quanto dinheiro estaria ali guardado. Fosse gato ou não, tinha bom gosto.
Melhor estar no motor de uma daquelas máquinas do que na cama de uma
adolescente chata. Quer dizer, mais ou menos, na verdade com a vigilância de
sua esposa e a anêmica renda, não teria nem um daqueles carros, nem a cama de qualquer
outra mulher.
Olhou o relógio, melhor voltar.
Levantou-se e sentiu uma vontade irresistível de urinar. Mirou na roda do
Mercedes Benz, mais uma na conta da gata.
domingo, 9 de junho de 2013
CONTOS CURTOS
Taiasmin Ohnmacht
I
Em
silêncio trabalhava.
Despesas,
lucros, receitas líquidas e variáveis, ativo, passivo.
A
nova assistente entrou na sala e alcançou-lhe os balancetes. Com o olhar, acompanhou
sua saída. Depois, distraído, voltou aos cálculos:
1+1=2
II
Janeiro
Carmela
acordou e calçou o par de chinelos ao lado da cama. Com desânimo, levantou para
mais um dia de trabalho.
Abril
Ao
lado da cama, dois pares de chinelos misturados. Carmela espreguiçou-se feliz.
O relógio pedia pressa, mas ela resolveu ignorar.
Novembro
Carmela amanheceu de
uma noite mal dormida. A cama fria, grande e vazia. Sentou e calçou o chinelo.
III
Era preciso ser rápido e ter força. Trabalho
pesado, suor e às vezes dor. Ele se esforçava para fazer o melhor, mas o
reconhecimento do patrão era mirrado. Tudo por um prato de comida e um pedaço
de chão. De qualquer modo, não conhecera outra vida e até gostava de andar na
rua, é claro que não avaliou os riscos. As quatro patas fraturadas no meio do
asfalto davam a dimensão da tragédia.
IV
Olhou o casal. Na precipitação, um guarda-chuva
para dois. A ternura da cena evocou-lhe um vazio. Continuou seu caminho pisando
em poças d’água, tentativa de afogar a certeza de um rompimento.
V
Conduziu bem sua vida. Amou, juntou bens, e até
teve alguns desafetos. Quando chegou aos cinquenta anos, não mais violou,
roubou, matou. Desfrutou bem de seus anos de aposentadoria. Era um homem bem
sucedido.
terça-feira, 4 de junho de 2013
PEQUENA CANÇÃO
Taiasmin Ohnmacht
Um amor de homem.
Que sorte
Encontrá-lo na madrugada,
Sem nada,
Ninguém para chamá-lo de seu.
É meu,
Seu coração e seu jardim.
Enfim,
Um amor e uma cabana
Sem grana.
Esse amor é um sacrifício,
Um vício.
Quero ver na hora da fome,
Que sobre
A cama toda revirada.
Que sorte
Encontrá-lo na madrugada,
Sem nada,
Ninguém para chamá-lo de seu.
É meu,
Seu coração e seu jardim.
Enfim,
Um amor e uma cabana
Sem grana.
Esse amor é um sacrifício,
Um vício.
Quero ver na hora da fome,
Que sobre
A cama toda revirada.
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