Abriu
os olhos. Nada. O teto branco, um pequeno ventilador e a certeza de estar em
seu quarto. Seria o dia seguinte à ontem ou algum outro? Levantou do chão,
olhou a bagunça ao redor sem qualquer emoção. Sentiu o cheiro forte de álcool.
Nem enjoo, nem desejo. Estava morta. Então, chegou o dia tão anunciado por todos
que se preocupavam com ela. Andou pelo apartamento, mas nada lhe pertencia. Viu
a filha dormir no quarto ao lado e sentiu apenas a sensação de nada mais poder
fazer, se não confirmar a própria morte. Saiu para a rua, sentiu a aragem da
noite como algo estrangeiro à pele. Ela andava, olhava, escutava como se viva
fosse, mas o corpo estava oco e transitava em um automatismo sem qualquer
significado ou pertença. Imaginava que morrer fosse virar um espírito, mas
morta estava reduzida a um corpo.
Em seu ventre algo se agitava.
Seriam as larvas devorando sua alma? A alma habitava o útero ou o intestino?
Passou por um grupo de pessoas que sugavam a madrugada, mas se percebia mais
próxima da poeira e das pedras. Ansiava pelo momento em que se tornaria
completamente inanimada. Exilada da vida, talvez exalasse o cheiro de uma carne
pútrida, agitada pela fome da morte. Até os pensamentos eram cada vez mais
podres.
Tudo se movimentava dentro dela e
não era ela. Nada mais tinha importância no mundo, exceto a última ceia que
oferecia. Em um boteco, segurava cálice de vinho tinto, último brinde para
acalmar os vermes.
O rodopio da escrita. Esta necessidade que transmites vive n`alma do escritor. Escrever.. nada mais. Esta necessidade se infiltra pelos poros, toma conta de nosso corpo, de nossa mente, e apenas cessa por algum tempo após escrevermos. este frêmito persistente é diagnosticado como situação de escritor. As histórias tomam conta de nossa vida e temos que registrá-las num contínuo ato de criar. Parabéns, Taiasmin! Em breve chegará o dia em que te pedirei um autógrafo. Nenhum dia, sem uma linha. Te abraço Mariza nonohay
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